Qui, 30 de março de 2023, 08:14

Parceria entre UFS e ONG auxilia uso de tecnologias em agricultura familiar
Colaboração entre Campus do Sertão e ONG resulta na elaboração de manuais de uso de equipamentos em formato de vídeo-aula

A implantação de consórcios agroecológicos tem buscado garantir a manutenção da fonte de renda de agricultores do semiárido nordestino. Seis estados da região já instalaram sistemas participativos, em sete territórios, reunindo 1.341 famílias, para o cultivo de algodão e outras produções. A iniciativa é da ONG Diaconia, por meio do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos no Semiárido.

Em uma de suas ações, o projeto possibilita o acesso a tecnologias que reduzem o tempo de trabalho e o esforço braçal nos roçados. São usados equipamentos como microtratores, plantadeiras, moto cultivadores, roçadeiras e colheitadeiras aspiradoras à gasolina.

A intenção é expandir e modernizar o cultivo do algodão e de produtos consorciados, além de auxiliar no fortalecimento da atividade feminina rural no sertão do Nordeste brasileiro.

Para estimular a autonomia do trabalho no campo, o projeto criou, em parceria com o Campus do Sertão da Universidade Federal de Sergipe (UFS), o Procedimento Operacional Padrão (POP). O objetivo é instruir sobre o uso do microtrator, plantadeira manual e roçadeira à gasolina.


Iara Silva da ACOPASE/SE manuseando o microtrator em Porto da Folha -SE. (Fotos: Diaconia)
Iara Silva da ACOPASE/SE manuseando o microtrator em Porto da Folha -SE. (Fotos: Diaconia)

Vídeo-aulas

O POP foi construído no formato de vídeo-aulas, posteriormente disponibilizadas na página da Diaconia no YouTube. Danilo Santos, professor do Campus do Sertão, foi um dos profissionais responsáveis pelas aulas.

“Ele foi construído com base no manual técnico do próprio equipamento e a partir do uso diário, na prática, de agricultores e agricultoras do projeto”, afirma Danilo.


Danilo Santos é professor do Campus do Sertão da UFS.
Danilo Santos é professor do Campus do Sertão da UFS.

“A gente fazia serviço braçal e em um dia de serviço tirava meia tarefa de terra”, diz Cleonaldo Ferreira, agricultor ligado à Associação de Certificação Orgânica Participativa de Agricultores e Agricultoras do Alto Sertão de Sergipe.

“Hoje com a roçadeira, tira uma tarefa despreocupado. Serviço que era feito por duas pessoas, agora fazemos em um dia e resolvemos com menos esforço físico porque o material é leve, de fácil manuseio e de custo barato. Com dois litros de gasolina trabalhamos o dia folgado”, assegura o trabalhador.


Cleonaldo Ferreira, durante manuseio da roçadeira em Porto da Folha.
Cleonaldo Ferreira, durante manuseio da roçadeira em Porto da Folha.

Segundo Fábio Santiago, coordenador do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos, o uso de tecnologias poupadoras de mão de obra como o microtrator, por exemplo, traz benefícios ambientais e que dialogam com a realidade climática da região.

“No Semiárido brasileiro, uma das práticas fundamentais para o sucesso do algodão em consórcios agroecológicos é o plantio nas primeiras chuvas porque a estação é curta (70 a 80% das chuvas em 4 a 5 meses do ano) e o algodão tem um ciclo final de 150 dias”, explica.

“Então é extremamente importante aproveitar essas primeiras chuvas a partir do uso das tecnologias que realmente deem uma condição favorável para fazer o preparo do solo, dialogando com o clima, além de menor impacto sobre o solo.”, acrescenta.


Equipe da UFS, representantes do Consórcio Agroecológico do território Alto Sertão Sergipano, e Diaconia, em Porto da Folha.
Equipe da UFS, representantes do Consórcio Agroecológico do território Alto Sertão Sergipano, e Diaconia, em Porto da Folha.

Iara Cléia da Silva é filha de uma das agricultoras multiplicadoras do Projeto Algodão, em Porto da Folha, Sergipe, e estuda Engenharia Agronômica no Campus do Sertão.

“Com a tecnologia eu pude perceber que o agricultor teve uma autonomia”, diz a estudante, a respeito do microtrator. “Antes a gente precisava de trator, e o custo também era bem mais alto. E hoje em dia a gente mesmo pode fazer, tanto eu como minha mãe podemos fazer esse trabalho, e a qualquer hora, não ficamos dependentes de terceiros”, observa.

Projeto Algodão

Coordenado pela Diaconia desde 2018, em parceria estratégica com a Universidade Federal de Sergipe (UFS), o projeto conta com o apoio financeiro de diversas entidades não governamentais.

Para a execução do Projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONGs locais com experiência em Agroecologia, que são responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânico (OPACs) e a produção agroecológica.

Sete territórios, em seis estados, recebem o projeto atualmente: Alto Sertão Sergipano (SE), Alto Sertão Alagoano (AL), Serra da Capivara (PI), Sertão do Pajeú (PE), Sertão do Araripe (PE), Sertão do Cariri (PB), Sertão do Apodi (RN).

Desde sua implementação, o Projeto Algodão já comemora a produção de mais de 136 toneladas de pluma orgânica e em transição nos quatro anos de atividades, juntamente com 158 toneladas de feijão, 618 de milho e 34 de gergelim. O valor bruto dessas produções consorciadas é de R$4,85 milhões, contabilizando o alimento vendido e consumido pelas famílias agricultoras.

Ascom
comunica@academico.ufs.br
Com informações da Diaconia


Atualizado em: Qua, 29 de março de 2023, 23:39
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